O sistema de cotas na educação brasileira
Novembro de 2011
Por Ana Pinho e Luiz Felipe Guimarães
De acordo com o Censo de Educação Superior de 2009, conduzido pelo INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais), das cerca de 5 milhões de matrículas em instituições de ensino superior, 36.294 foram preenchidas através do sistema de reserva de vagas, as chamadas “cotas”. São 69% de alunos de escolas públicas, 25% de beneficiados por cotas raciais e 4% por cota sociais, baseadas na renda familiar.
O relatório também diz que o Programa Universidade Para Todos (Prouni), que premia estudantes com bolsas integrais ou parciais de acordo com seu desempenho na prova do ENEM, é responsável pela ajuda financeira de 36% de 215 mil alunos.
Marcelo Silva de Lima, de 19 anos, que estuda Administração de Empresas na Universidade Presbiteriana Mackenzie com bolsa do Prouni, acha que as cotas sociais são parâmetros mais confiáveis do que as raciais: “Somos um país miscigenado, e é mais fácil escolher por critérios econômicos do que raciais”.
Julio César de Oliveira Santos, de 17 anos, vai prestar vestibular pela primeira vez. Preparando-se na escola pública em que estuda, ele sonha em cursar Letras na Universidade de São Paulo, e já sabe até as línguas que quer estudar: inglês e português. Liberado de pagar a taxa de inscrição da FUVEST, não concorda com as cotas sociais ou raciais. “Nenhum é certo, deveria haver igualdade”, diz. “Mas todos sabem que o ensino público não é bom”, continua.
Marcelo tem uma opinião parecida: “Elas cumprem parcialmente seu papel de inclusão social. O ideal seria de que todos pudessem concorrer de igual para igual, ou seja, educação básica de qualidade”.
Cotas são necessárias
Já Maria das Graças Cruzeiro, de 23 anos, pensa que, visto que não há melhora nas escolas públicas, “as cotas são o único jeito”. “Educação é muito importante, e os pobres, que em sua maioria são negros e mulatos, são os que mais sofrem. É um jeito de avançar”, explica.
Para João Cristino, de 57 anos, é uma questão de justiça. “As pessoas dizem que no Brasil não tem preconceito, não tem racismo, mas tem sim. Já senti muito isso na pele. Se as cotas ajudarem os jovens a subir na vida, tendo mais conhecimento e educação, podendo competir melhor com quem teve mais oportunidade, elas são boas”. E conclui, esperançoso: “Tenho fé de que um dia nenhuma cota vai ser necessária, se Deus quiser”.