“Se ser vadia é ser livre, então somos todas vadias”

Acontecerá neste sábado, dia 26, a Marcha das Vadias nacional. Em São Paulo, o evento será às 13h, na praça do Ciclista, na avenida Paulista, na região central da cidade.

Essa será sua segunda edição no Brasil. As manifestações tiveram origem no Canadá, após um policial ter declarado, na Universidade de Toronto, que para se evitar estupros, era necessário que as mulheres não se vestissem como “vadias”. A revolta causada levou as canadenses às ruas a lutarem contra o machismo e contra a violência sexual e incentivou que mulheres de outros países, como os Estados Unidos, Israel, Holanda e Brasil, fizessem o mesmo.

Ensine-os a não estrupar

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O termo slutwalk, original do inglês para “marcha das vadias” ou “marcha das vagabundas”, tem a pretensão de ser irônico e chamar a atenção, além de dar outro sentido à palavra “vadia”, já que esse é carregado de significado negativo e se tornou ferramenta de acusação grave de caráter. “Se ser vadia é ser livre, então somos todas vadias” é um dos lemas do movimento. Para uma das organizadoras da segunda edição do evento em São Paulo, Alice P., a Marcha “é a subversão do conceito de vadia”.

Amanda M., também organizadora, afirma que o intuito da manifestação é combater o machismo da sociedade que legitima o estupro e, de certa forma, criminaliza a vítima. “É comum se ouvir ‘Ela foi estuprada porque estava andando sozinha na rua à noite’ ou ‘O estuprador não conseguiu controlar seus instintos devido à roupa que ela estava’. Além do mais, quantas mulheres não ficam caladas por vergonha? A violência contra a mulher tem que acabar”.

Para Alice e Amanda, há muito a ser mudado na sociedade brasileira quando o assunto é machismo. “A mulher sofre muito mais pudor que o homem. A religião e a moral conservadora impedem que haja um maior avanço do feminismo, sendo que existem ainda muitas brasileiras que legitimam o machismo” fala Alice P. “O homem pode andar sem camisa normalmente sem que ele seja assediado, mas isso não significa que a mulher não se sente excitada”, disse Amanda M. “Eu tenho uma colega que parou de andar de bicicleta porque não aguentava mais os assédios diários. Essa opressão sexual tem que acabar”.

Moradoras e a Marcha

O Notícias do Jardim São Remo foi ouvir a opinião das são remanas sobre o assunto.

Apesar de desconhecido para a maioria, o movimento ganhou bastante adesão. “Não se pode culpabilizar a mulher e tornar o estuprador vítima de suas vontades”, disse a moradora Diana Pereira. “Eu acho que a roupa é só um pretexto para justificar o estupro” concordou Monique Dayane. Maria do Socorro França, apesar de achar que algumas mulheres exageram ao se vestir, também acha que a roupa não justifica o ato e que o estuprador é o responsável.”Acredito que algumas mulheres se vestem para chamar a atenção, mas isso não quer dizer que elas querem ser estupradas”.

Estupro/Violência Sexual

Segundo o artigo 213 do Código Penal Brasileiro, estupro é “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar”.

Gislene de Campos Soares Pereira, mestre em Psicologia e professora na Universidade Anhanguera/Uniderp, diz que se trata de uma violência, uma agressividade sexual, na qual não importa a libido ou o afeto, mas sim a imposição de poder do estuprador sobre a vítima.

“Psicologicamente, há uma invasão nas emoções, o não respeito ao desejo do outro, ao livre arbítrio. nem sempre deixa sequelas físicas, porém emocionalmente a pessoas se sente destruída.” A psicóloga afirma que as vítimas de estupro fica com sequelas emocionais. “Muitas se fecham para qualquer tipo de relacionamento, canalizam suas energias sexuais para o trabalho, ou outra atividade que não tenha qualquer tipo de exposição, ou seja, que não seja necessário contato com pessoas do gênero masculino”.

Quando questionada sobre a natureza do estuprador, Gislene afirma: “Os agressores sexuais agem de forma impulsiva, violando regras sociais de maneira disfuncional para satisfazer seus desejos. Não há uma definição exata do perfil de estupradores. Não é regra geral, mas em muitos casos o abusador sofreu violência sexual, psicológica ou maus tratos na infância, ou na adolescência, provavelmente por pessoas próximas”.

Dados da Secretaria da Segurança Pública do governo estudual demonstam que, de janeiro a dezembro de 2011, houve 1818 estupros na capital paulista, resultando em uma média de 151,5 ao mês.

Capão Redondo, bairro da Zona Sul de São Paulo, é onde há mais ocorrências de estupros, sendo que, ano passado, 76 casos foram registrados. O Butantã, distrito da Zona Oeste, onde se localiza o Jardim São Remo, registrou 15 estupros no ano de 2011 e dois de janeiro a março desse ano.

Por Beatriz Moura

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