Leitores precisam ser conquistados

Imposições fazem da leitura um hábito pouco agradável entre crianças e adolescentes.

Edmir Perrotti é doutor em Ciências da Comunicação e leciona a disciplina de Políticas Públicas em Comunicação e Leitura na USP. Suas pesquisas abordam temas como educação e literatura infantil e juvenil. Em entrevista concedida ao NJSR, ele discute o universo da leitura na atualidade.

NJSR: Hoje, como o senhor traçaria um panorama da leitura no mundo dos jovens?

"A leitura tornou-se fragmentada”

A leitura tornou-se fragmentada”


Perrotti: É um ambiente de mudança. Há geralmente um pico de leitura na infância, mas uma queda na adolescência. É uma questão a ser cuidada, especialmente por causa da concorrência da leitura com as outras mídias. Cresceram os atos de leitura ligados às tecnologias, como é o caso do email. Evidentemente, há uma mudança nos conceitos e no modo de ler e escrever com essa prática. A leitura tornou-se veloz, fragmentada. Se ela passa a ser superficial, temos então um problema.

É verdade que os jovens hoje leem menos?
Não é verdade, se pensarmos nos atos de leituras que os jovens vêm fazendo através das outras modalidades de texto, como os impressos e os meios digitais. Hoje, os jovens estão circulando pelas outras formas de leitura.

Qual é a dificuldade de se construir um hábito de leitura?
Esse é um problema histórico no Brasil. Primeiro de tudo, a leitura foi deixada de lado nos valores disseminados pela cultura do país. Também houve uma falta de políticas de leitura específicas no planejamento governamental. Somado a isso, há um problema estrutural na inserção do sujeito nos meios de leitura. Por fim, a própria aceleração das atividades culturais, especialmente entre os jovens, fez com que eles acabassem dividindo o tempo de leitura com essas outras tarefas. A leitura, em sua modalidade tradicional, acabou perdendo espaço.

O senhor acredita que a forma com que a escola aborda a leitura faz com que ela se torne menos prazerosa do que pode ser?
Evidentemente, a obrigatoriedade da leitura acontece e às vezes o gosto por ela surge aí. No entanto, as práticas que acompanham as leituras são problemáticas na maioria das vezes. Muitas das atividades não trabalham com aspectos do texto que são significativos para o leitor. O aluno lê o livro sem que este faça sentido para ele. Assim, a escola precisa abordar a leitura de modo a criar um vínculo entre o livro e o leitor, para cativá-lo, conquistá-lo.

Qual deve ser o papel da família em relação à leitura?
A família tem um papel fundamental e essencial. Porém, não podemos deixar de lado o fato de que há muitas famílias que viveram separadas do universo da leitura por uma questão histórica. Dessa forma, as instituições como bibliotecas e o mercado editorial passam a ser figuras importantes para suprir essa possível ausência familiar. Elas devem aproveitar o potencial positivo que muitas famílias esperam da leitura.

Qual seria o caminho mais fácil para que pais e professores possam ajudar as crianças a desenvolver o gosto pela leitura?
O primeiro passo é que eles, os mediadores, descubram o encantamento pelo texto. Sem esse vínculo, é querer que o outro desenvolva algo que ele mesmo não possui. É tudo um método, que começa pela sensibilização. Já o segundo passo é a presença do Estado na gestão das políticas públicas, especialmente aquelas dentro do ambiente escolar.

Por: Camila Berto e
Odhara Caroline Rodrigues

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