Projeto quer vetar brinde em alimento
O senador Eduardo Amorim, do Partido Social Cristão (PSC-SE), propôs no mês de Agosto um projeto de lei que proíbe as redes de lanchonetes e restaurantes de distribuírem brinquedos junto às refeições. A psicóloga Raquel Degenszajn, do Centro de Saúde Escola Butantã, concorda com a proposta e acha que ela pode tornar evidente um problema grave na nossa sociedade: a criança vista como consumidora.
“Hoje a criança tem um poder de influência muito grande na família”, explica Raquel. Os pais cedem ao pedido de consumo dos seus filhos como uma tentativa de compensar a ausência na vida deles. Segundo a psicóloga, os pais estão terceirizando o papel de educadores e o transportando para as escolas e principalmente para as mídias, deixando as crianças “à própria sorte” em meio ao bombardeamento consumista.
O problema fica ainda maior quando se trata de alimentação. Como estão em fase de crescimento, as crianças precisam de muitos nutrientes essenciais. Lanches como sanduíche, batata frita, salgadinhos e bolachas não oferecem todas as vitaminas e proteínas necessárias (veja gráfico abaixo).
Elas sabem o que é saudável
Um ponto interessante constatado pela psicóloga em seus trabalhos na São Remo e também pela equipe de reportagem do NJSR é que os pequenos conhecem bem quais são os alimentos nutritivos e quais não são. Raquel conta que fez uma experiência com algumas crianças, pedindo que elas montassem pratos que consideravam saudáveis e pratos com o que elas gostavam de comer.
Entrevistamos quatro crianças do grupo de teatro do Circo Escola que reforçaram a afirmação da psicóloga: possuem muito conhecimento sobre o que é e o que não é saudável. No entanto, as opiniões se dividem na hora de escolher o que comer: Samara, 10 anos, prefere bolacha, hambúrguer e linguiça, enquanto Luana, 9 anos, opta por arroz, feijão e salada.
Os motivos desse contraste podem ser variados, mas o incentivo da família é fundamental para que, desde cedo, sejam cultivados bons hábitos alimentares.
Consequências da má alimentação
Os problemas de uma dieta pouco saudável na infância podem ser vários: hipertensão, diabetes, taxas altas de triglicérides, colesterol, e, claro, obesidade. Os índices de obesidade infantil no Brasil são alarmantes (veja gráfico à direita). Raquel explica: “Doenças que são muito características da vida adulta já estão se manifestando na infância, e isso tem a ver, de uma maneira muito contundente, com o hábito alimentar, com a qualidade e com o estilo de vida, que é sedentário, com pouca atividade física e basicamente pautado por uma alimentação com produtos industrializados”. A dieta infantil deve, portanto, ser muito supervisionada pelos pais e pelos médicos, já que as crianças possuem uma grande tendência a se alimentar de forma incorreta.
O alto índice de consumo de lanches com baixo valor nutricional faz parte do padrão de vida que levamos atualmente. Tudo deve ser feito no menor tempo possível, inclusive nossa alimentação. Segundo Raquel, “é aí que o alimento industrializado ganha do orgânico”, pois o trabalho e o tempo de preparar são bem menores, e muitas vezes tudo já vem pronto.
Publicidade infantil
Segundo Raquel, as crianças já possuem um papel central de decisão na família. “Não são tão passivas quanto a gente imaginava em relação a essa questão alimentar. Elas têm uma atitude construída, montada, e que tem muito a ver com a questão da publicidade”.
O modelo de vida atual é baseado em uma cultura consumista, assim sendo, tudo gira em torno da mercadoria. Quem não está enquadrado neste cenário de consumo intenso sente-se excluído da sociedade. É seguindo essa lógica capitalista que atua o mercado publicitário contemporâneo.
Por Aldrin Jonathan e Ariane Alves