Andanças, vendas e histórias para contar
As preciosas memórias de uma animada senhora mineira que não gosta de perder tempo
por Maria Clara Vieira
Dona Ana do coentro, Vovozinha, Tiazinha, Mulher do coentro. Todos esses apelidos carinhosos pertencem à mesma pessoa: Ana Nunes. Famosa por vender saquinhos de coentro a RS 1,50 e sempre usar chapéu, Dª Ana é uma senhora simpática e trabalhadora. Ela mesma busca o famoso tempero: “Daqui até a ponte do CEASA eu vou de ônibus, depois eu vou a pé”. Questionada sobre como consegue pique para toda essa caminhada, Dª Ana responde que Deus lhe deu fé e saúde. E o trabalho não dá descanso: ela sai para as vendas na vizinhança todos os dias, inclusive aos sábados e domingos.
Do campo à cidade grande Rio Vermelho, em Minas Gerais, é sua terra natal – e o sotaque não nega. “Estava acostumada na roça. Eu capinava, plantava, cuidava das galinhas. Tenho saudade do sossego de lá.” Mãe de quatro meninas e cinco meninos, foi graças ao convite de um deles, já adulto, que Dª Ana veio para São Paulo. Desde então, há mais de vinte anos, leva uma vida agitada: “Ninguém anda como eu”. A comerciante não gosta de esperar muito por condução e prefere caminhar.
Sempre de vestidos floridos ou saia e chapéu na cabeça, Dª Ana pode ser reconhecida de longe. O chapéu, disse ela, é costume que adquiriu em Minas, quando andava a cavalo.
Agenda cheia
Apesar de não revelar a idade de jeito nenhum, Dª Ana mantém-se jovem: conversa bastante, os olhinhos brilham e o sorriso vive no rosto. Viúva, ela diz: “Não moro sozinha, eu moro com Deus”.
Atualmente Dª Ana cuida do neto Vinícius, de 6 anos, enquanto os pais dele trabalham. Além das vendas do coentro e dos cuidados com o neto, ainda tem outra atividade: “Faço benzimento em crianças”. Ocupada e batalhadora, ela diz que não tem tempo para televisão. Assiste apenas ao jornal da noite.
“Comunidade é família”
Dª Ana fala que a comunidade mudou muito com os anos.“A São Remo ficou melhor. Agora tem padaria e mercado perto de casa. Antes não tinha isso.” Diz também que nunca se mudou do primeiro terreno em que se instalou na comunidade – apenas trocou o térreo pelo 1º andar.
Os fi lhos de Dª Ana estão hoje “espalhados”, vivendo em diferentes lugares. Ela sente falta deles, mas faz uma observação: “Graças a Deus todo mundo aqui na São Remo é amigo. Considero todos como fi lhos e netos”.