Resposta sobre fechamento da CEI “PROJETO GIRASSOL”
Carta enviada por moradores do Jardim São Remo à redação do NJSR, que pediram para não serem identificados.
“Nós, moradores da São Remo, somos contra a decisão de fechamento da CEI Projeto Girassol. Esta decisão foi tomada neste ano de 2012, de uma hora pra outra, pela ONG que a administra sem nenhum diálogo com os moradores, nem mesmo com as famílias das crianças atendidas e as justificativas apresentadas não levam em consideração questões muito importantes como o fato deste Centro de Educação Infantil ser a única creche dentro da Favela São Remo.Se por um lado, a ONG Associação Metodista Livre Agente desenvolveu um trabalho de apoio à Associação de Moradores da São Remo, por outro, não se deu ao trabalho de consultá-la antes desta decisão que afeta diretamente a toda nossa comunidade.
A ONG afirma que o novo trabalho com crianças mais velhas terá um caráter de apoio às famílias, mas como ficam as crianças pequenas? Se a relação com as famílias no novo projeto também for assim, unilateral, é melhor que ela não aconteça!
A CEI Projeto Girassol já atendeu centenas de crianças pequenas ao longo de sua existência, antes mesmo de ser conveniada com a Prefeitura de SP, e atualmente garantia o acesso de um número importante de crianças da São Remo. Sabemos como está difícil conseguir uma vaga nas Creches na cidade de São Paulo, por isso a importância deste trabalho!
A partir do momento em que se iniciou um trabalho como este, a ONG assumiu um compromisso, e este compromisso é público e não deveria ficar a mercê de preferências pessoais daqueles que a administram. Nós moradores devemos ficar reféns das decisões das ONGs que vem realizar trabalhos aqui? São eles que sabem o que será melhor para nós?
Estamos indignados com a demissão de uma equipe inteira que vinha, há vários anos, dando a cara de um trabalho de respeito à infância. Há moradores da São Remo nesse quadro de funcionários. Qual é o apoio que foi dado a eles?
Acreditamos que a decisão sobre o trabalho a ser desenvolvido numa dada comunidade não pode ser tomada sem considerar a opinião e as necessidades da própria comunidade. Se isso não acontece, é sinal de que aqueles que estão realizando o trabalho acreditam que qualquer coisa que fizerem será bem vinda. Mas nós não aceitamos “qualquer coisa”, a São Remo precisa de uma creche, e mais: de diálogo verdadeiro por parte das ONGs que se propõem a realizar trabalhos aqui.
Se houveram questões financeiras, burocráticas ou pessoais para a tomada da decisão de encerrar o atendimento às crianças pequenas, estas deveriam ter sido postas antes e não depois! Essa postura da Associação Metodista Livre Agente distorce o caráter tanto do apoio que ela vem dando à Associação de Moradores da São Remo como dos próprios “serviços” que ela se propõe a realizar na comunidade.
Como acreditar que essa ONG vê os moradores como iguais se nossa opinião não tem valor no momento de tomar uma decisão tão importante como esta? Se as necessidades da comunidade não determinam os trabalhos que serão desenvolvidos pela ONG, afinal qual é o objetivo dela aqui?”
Olá, meu nome é Elbio Miyahira, participo da diretoria da Associação Metodista Livre e estou bastante presente nas decisões e no dia a dia da entidade. Fiquei muito surpreso ao ver o texto publicado sobre o fechamento da CEI Girassol. Acho muito estranhas estas críticas publicadas por este meio de comunicação por vários motivos.
Em primeiro lugar, o texto é anônimo, ao mesmo tempo que nos critica de falta de diálogo. O anonimato nos impede de esclarecer para o autor do texto a nossa posição. A não ser que este não esteja interessado em diálogo. Pois, sempre estivemos de portas abertas para receber a qualquer morador e conversar sobre o assunto. Durante este processo, conversamos com todas as pessoas envolvidas em nossos trabalhos e explicamos os novos rumos que estamos tomando. Neste processo, recebemos algumas críticas, mas tentamos explicar as razões da decisão em várias reuniões. Primeiramente, nos reunimos com a nossa equipe, depois com os pais dos alunos e, finalmente, com a associação de moradores.
Um segundo motivo de estranheza é que um texto seja publicado sem que a outra parte envolvida sequer seja consultada. Espero que os futuros jornalistas que serão formados por esta que é uma das melhores universidades de nosso país tenham critérios mais rigorosos na construção de suas notícias.
Por fim, acho estranha a crítica de que nenhum apoio foi dado aos nossos funcionários demitidos. Sei que a demissão não é algo agradável, mas nos colocamos à disposição para apoiar a todos os nossos funcionários. Entramos em contato com toda a nossa rede para que ajudássemos na recolocação de todos. Inclusive, alguns já conseguiram se recolocar no mercado de trabalho.
A nossa entidade continuará atuando na área da educação. Continuaremos a desenvolver um trabalho de qualidade. O novo projeto atuará não somente no atendimento das crianças, mas também das famílias.
Novamente, nos colocamos à disposição para esclarecer qualquer dúvida e dialogar sobre as necessidades de São Remo.