São Paulo: oportunidades ou não?

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A cidade, que antes foi polo atrativo para o brasileiro, tem diminuido ritmo de crescimento

João Carlos Saran

 

São Paulo recebeu uma grande quantidade de migrantes advindos de outras regiões do país, sobretudo com o surto de industrialização nas décadas de 50, 60 e 70. Muita gente foi impulssionada a abandonar seu estado de origem e lançar-se na aventura das grandes cidades. Graças a isso, São Paulo ganhou, àquela época, o apelido de “terra de oportunidades.”

“O rendimento era bom, mesmo com o custo de vida alto. Às vezes, era um emprego aqui ou nada lá. Além disso, havia uma maior qualidade do serviço público”, afirma Carlos Roberto Azzone, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP.

E hoje em dia? “Ainda há fluxo para São Paulo, mas numa fração muito menor do que nas décadas anteriores”, lembra Azzone.

 

Desconcentração industrial           

Atualmente há a influência do que os especialistas chamam de “desconcentração industrial”: a saída das indústrias da região metropolitana, reduzindo as oportunidades de emprego.

No entanto, o setor terciário, aquele que concentra o comércio e os serviços, equilibra a oferta de mão-de-obra e reduz um pouco os efeitos negativos da desconcentração industrial. Só que há uma grande parcela da população que trabalha nesse setor  de maneira informal.

Por isso, vem crescendo a “migração de retorno”: os indivíduos voltam aos seus estados natais, principalmente quando se aposentam. Isso porque a renda do aposentado pode ser insuficiente para a vida na capital, mas rende muito mais em outras regiões.

 

Crescimento desordenado

No processo de expansão de São Paulo não houve planejamento para ordenação do espaço urbano. “Foi frequente a ocupação de áreas de pouco interesse para o mercado imobiliário. Basicamente áreas de morros e encostas”, afirma Maria de Lourdes Zuquin, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

Essa ocupação tornava-se possível devido à expansão do transporte público. Problemas urbanos comuns a grandes centros multiplicaram-se desde então, tornando a vida na capital caótica. As enormes deficiências em setores relacionados à habitação, saneamento básico e transporte levaram muitos a questionarem o valor das “oportunidades” da     capital paulista.

Para tentar direcionar soluções para os grandes problemas foi criado o “Plano Diretor”. A atual administração propôs uma revisão de efeitos negativos nele, já que ela contraria a própria natureza do plano, alerta Zuquin.

No fim das contas, não há um consenso sobre a questão: São Paulo é ou já foi algum dia uma “terra de oportunidades”? A única possível certeza é aquela prevista na música “Sampa”, do famoso compositor Caetano Veloso: “Quem vem de um outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade.”

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