Preconceito que vive entre brasileiros
Estado toma medidas pouco significativas para mudar a situação atual do negro no Brasil
Valéria Couto da Silva é colaboradora do Núcleo da Consciência Negra da Universidade de São Paulo. Nesta entrevista, ela fala sobre as formas de racismo, medidas para melhorar a inclusão social dos negros e acabar com preconceitos.
Na sociedade brasileira, onde o racismo se destaca?
Como o racismo é estrutural, ele está em tudo, mas a pior situação é o extermínio dos jovens da periferia, pois estamos falando de vidas. É ruim não estar na faculdade ou não existir estudos suficientes sobre a saúde da população negra, mas quando falamos de policiais que chegam na periferia e simplesmente matam, é pior. O genocídio é uma política de Estado e não se dá apenas pelo extermínio, mas também na falta de saúde e nas péssimas condições de moradia. A pior parte é que pessoas morrem e ninguém sabe o porquê, justificando com “era assaltante ou ex-presidiário”. Para mim, nessa conclusão o racismo está presente de uma forma muito cruel, mas as pessoas não percebem isso. O uso de ofensas como “macaco” não é aceito, mas saber que a cada 3 jovens que morrem, 2 são negros não incomoda. A falta de estudantes negros não é vista como racismo e são essas partes que nós temos que tentar desconstruir.
A prefeitura de São Paulo criou a Secretaria da Promoção da Igualdade Racial, porque são necessárias intervenções do governo para acabar com o racismo?
Desde o momento da abolição, sempre existiu a necessidade do Estado interferir, acontece que isso nunca foi feito. O movimento negro fala que o dia 14 de maio nunca chegou, porque a abolição foi no dia 13, mas depois disso nada foi feito para a integração dos negros à sociedade.
As cotas de vestibular ajudam a diminuir o racismo pela maior presença do negro nas universidades, ou não?
A inserção da política de cotas não vai acabar com o racismo. A partir do momento que tiverem mais negros as pessoas vão se incomodar a um ponto que vão demonstrar. Aí volta a questão do racismo de forma estrutural, não existe uma lei que proíbe os negros de prestar o vestibular mas este é feito para segregar.
Existe racismo entre negros?
Uma pessoa que se reconhece como negro consegue resistir à sociedade, pois nela a cultura afro não é aceita. Há pessoas que usam de qualquer característica para dizer “sou pardo, não negro”. Tendo a pele mais clara que a do outro você pode se sentir superior. O governador é racista, porque ele tem poder de mudar esta estrutura, mas ele não quer. O pobre não tem esse poder, então ele só reproduz, se tornando preconceituoso, não racista.
Você acredita que a solução para o racismo é a educação?
O básico é a educação, e os negros precisam entender que sofrem racismo. A mídia não representar a sociedade negra é uma forma velada de racismo. E nesse caso, ela tem um papel fundamental, já que está presente diariamente enquanto o movimento negro está apenas em algumas escolas uma ou duas vezes por semana.
Daniel Muñoz