Polícia reprime motoboys

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São remanos relatam situações que viveram; PM e sindicato comentam

Mariana Payno Gomes

 

Noite do dia 9 de abril. Eduardo Luís dos Santos é levado para o batalhão da PM por um grupo de policiais militares. Horas depois, é encontrado morto na zona norte da capital.

Madrugada de sábado, 8 de maio. Alexandre Santos circula de moto pela zona sul.  Alguns minutos mais tarde, é abordado na porta de sua casa pelos PMs, que lhe aplicaram uma “gravata” até que perdesse os sentidos. Foi levado para o hospital, mas faleceu. Os dois trabalhavam como motoboys.

As ruas da São Remo estão cheias de motos. Muitos de seus donos contam que já passaram por situações parecidas envolvendo a polícia. “Estava chegando em casa do trabalho, quando dois policiais me abordaram. Me agrediram e me levaram para a delegacia, alegando que eu estava bêbado e drogado”, relata Gilmar*. Ele dormiu na cadeia e pode ser levado a julgamento.

Gilmar*, são remano e motoboy, já foi parado várias vezes por policiais. Nem sempre de forma amigável. Segundo ele, as agressões não são apenas físicas, mas também verbais, com xingamentos e ameaças. O morador João* conta que ficou preso por 45 dias, “porque o policial não foi com a minha cara”.

Aldemir Martins, o “Alemão”, presidente do Sindicato dos Motociclistas de São Paulo, mostrou indignação quanto à atitude de certos policiais. “Eles exageram, agridem os trabalhadores. O papel da polícia é educar, mas eles vão para a periferia sedentos de matar”. Nos casos de assassinato de motoboys, Alemão sente falta de uma representação da categoria na justiça. “O Sindicato não tem legitimidade para agir. Isso cabe aos movimentos pelos direitos humanos, mas eles não se pronunciam. Eles não podem ficar quietos. São movimentos hipócritas e oportunistas”, protestou.

Alemão confirma a opinião de vários são remanos: “Para a polícia, todo motoboy é bandido”. A assessoria de imprensa da PM, porém, condena o comportamento violento e a discriminação. “A Polícia Militar é responsável por executar as leis e não sustenta preconceitos de qualquer natureza contra o cidadão”. Completou, ainda, que os policiais militares que não seguem as bases da cidadania no desempenho de suas funções são punidos e afastados de seus postos.

Os policiais envolvidos nos casos de Eduardo e Alexandre estão presos. “O que me inspirou confiança foi que os promotores os denunciaram por racismo, preconceito e tortura. [A prisão dos envolvidos] renovou minha esperança em um país melhor”, desabafa Alemão. Mas, infelizmente, não há como negar que ainda existe preconceito. Gilmar reforça: “Na comunidade é assim, no Morumbi não”.

*Os nomes utilizados são fictícios.

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