“Viver com AIDS é possível, mas com preconceito não”
Especialistas e ONG’s se esforçam por maior respeito a soropositivos
Felipe Poroger
No inicio de maio, a Folha de S.Paulo publicou uma notícia de que o Ministério da Saúde estaria preparando um protocolo orientando – e incentivando – a reprodução planejada de soropositivos. Por meio deste, o governo defenderia a possibilidade de pessoas portadoras do vírus HIV poderem ter relações sexuais sem camisinha, em datas e condições clínicas específicas, quando a chance de transmissão da doença seria próxima a zero.
Embora de caráter especulativo, a publicação rapidamente gerou forte repercussão em diversos setores da sociedade.
Um dos primeiros a se pronunciar foi o ministro da Saúde, José Temporão, que afirmou que esta orientação para gravidez ainda está em estudo, ressaltando que o objetivo é “que todas as mulheres brasileiras que queiram ter filhos, os tenham em condições seguras para si e para os seus bebês”.
Repercussão
Especialistas em AIDS apoiaram a iniciativa do governo. Juvêncio Furtado, membro do comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia, disse que atendeu seis casais nessas condições, destacando que “nenhum parceiro se contaminou e todos os bebês nasceram saudáveis“.
O infectologista Ésper Kallas, professor da USP, também apoiou a realização, ressaltando, porém, que “não dá para os pacientes tomarem a decisão sozinhos”.
Polêmica
O assunto ganhou contornos polêmicos quando o jornalista da TV Globo, Alexandre Garcia, ignorando o apoio de especialistas à iniciativa do governo, declarou que é uma “maluquice” um soropositivo engravidar.
A declaração foi repudiada por militantes da luta contra a AIDS, membros da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e também por Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, que classificou a declaração como preconceituosa e “um enorme prejuízo para as pessoas que convivem com HIV/AIDS”.
Combatendo o preconceito
Vinte anos depois do início da disseminação da AIDS, com o desenvolvimento de medicamentos e campanhas de prevenção, a doença mata menos e não debilita tanto os seus portadores; sobreviver à doença não está mais em pauta.
O preconceito, no entanto, continua. O objetivo agora é garantir que os soropositivos tenham uma vida normal. Incentivar a gravidez natural dos portadores é uma medida que visa reduzir os abismos entre a vida dos soropositivos e a de quem não tem a doença.
Esforços do governo
Com esse objetivo, o governo lançou, em 2009, a campanha “Viver com AIDS é possível, com o preconceito não”, que reforçava que portadores do HIV podem levar uma vida normal e se relacionar, inclusive, com pessoas que não têm o vírus. Diretor da ONG Amigos da Vida e portador do vírus há 22 anos, Christiano Ramos, 41, disse: “A figura do Cazuza não existe mais. O maior inimigo da AIDS é o preconceito”.