“O preconceito no Brasil é encoberto”

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Pesquisadora da Universidade de São Paulo discute a discriminação, suaorigem e suas implicações

Luísa Granato
Ruan de Sousa Gabriel
A pesquisadora Denise Carvalho, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), decidiu focar seus estudos no preconceito e nas questões raciais. Essa preferência foi em virtude de sua origem socioeconômica e étnica.
Em entrevista para o NJSR, Denise, que já morou na São Remo, numa pensão estudantil na Rua Cipotânea, fala sobre tolerância e discriminação racial no Brasil.
NJSR: Quais seriam as origens do preconceito?
Denise Carvalho:
O preconceito começou como consequência da escravidão, porque os negros eram considerados, até pelos mais estudiosos da época, seres inferiores, associados a animais e desprovidos de inteligência. Além disso, o preconceito tem origem em certos valores, na linguagem, em termos pejorativos e também no ideal de beleza.
NJSR: Como o brasileiro lida com a questão do preconceito?
DC:
O grande problema é que o preconceito no Brasil é encoberto. As pessoas têm vergonha de se reconhecer como preconceituosas ou racistas. Porém, suas ações demonstram que elas veem no outro um estranho, que é perigoso em potencial. É necessário conscientizar a população de que o preconceito existe e deve acabar. Porque quando o problema não é reconhecido, ele não é tratado, ou é tratado com muita dificuldade.
NJSR: O preconceito no Brasil é maior com as pessoas de baixa renda ou com as minorias (negros, homossexuais, mulheres, etc)?
DC:
Existe preconceito em relação aos dois segmentos. O que me chama atenção na declaração do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) é quando Preta Gil pergunta o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma mulher negra. Ele associou isso a um comportamento promíscuo. Isso revela essa ideia que fica, às vezes, na mente das pessoas de que os negros são mais sexualizados e têm um comportamento moral que é reprovável por uma parte da sociedade. É um preconceito de cor, de origem e mesmo de concepção.
NJSR: Os comentários preconceituosos do deputado Bolsonaro refletem a opinião dos brasileiros ou é um caso isolado?
DC:
Muitos votaram nele por falta de informação. Mas, mesmo nas camadas mais vulneráveis, talvez existam pessoas que se identifiquem com a opinião dele ou não dão tanta importância ao voto.
NJSR: O destaque dado a personagens negros nas novelas ajuda no combate ao preconceito?
DC:
Tem um papel importante, porque a novela influencia a visão das pessoas. Se alguém tem o hábito de ver o núcleo negro numa posição inferior, vai assimilar que aquilo é natural ou vai se identificar com aquela posição, achar que não consegue transformar sua história, sua vida.
NJSR: O que pode ser feito para combater o preconceito?
DC:
Receber apoio por parte do governo, ações que cheguem aos meios de comunicação e às camadas mais populares, e mudanças na educação. Trazer às aulas a ideia de que as pessoas são diferentes e têm opiniões diferentes. A ideia é de que apenas com essa diversidade é que a sociedade pode se desenvolver.

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