Cinema e periferia: realidade ou ficção?

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Moradores da São Remo dão sua opinião sobre a forma como as comunidades são vistas

Érika Yukari

O cinema nacional tem frequentemente retratado a vida nas periferias do Brasil. O NJSR foi às ruas da São Remo saber a opinião dos moradores sobre o assunto.
Manoel Luiz da Silva não tem dúvidas ao defender as obras que tratam do tema. “É bom que mostra a realidade da favela”, declara o morador.
Já Ademir Gonçalves acredita que as produções brasileiras “deixam um pouco a desejar” em vários aspectos.

Temática violenta

Grande parte dos filmes produzidos privilegia a violência como marca da realidade nas comunidades. Para Ivone de Carvalho, a “evolução do crime e da mortalidade infantil” retratada no filme Cidade de Deus, “representou bem o que acontece” na comunidade.
A respeito desta mesma problemática ela cita o filme Ó Paí, Ó, o qual inclui em uma de suas cenas a morte de duas crianças por parte de um policial local. Cosme e Damião, filhos de Dona Joana, a proprietária do cortiço em que se passa o enredo, foram confundidos com menores que faziam uma série de furtos no Pelourinho.
Ivone relata a grande semelhança de tal episódio do filme com o passado da São Remo. “Se você for analisar o antes daqui com aquele filme, você se identifica muito”, relembra a moradora.
Por outro lado, o exagero de cenas agressivas às vezes gera incômodo. “O pessoal quer ganhar Ibope”, é o que declara Vinícius de Oliveira. Perguntado sobre o novo filme Bróder, diz que os produtores vão “mostrar a visão deles”. Para Vinícius, isso “não muda nada para a comunidade”.

Variações pelo Brasil

Outro ponto citado pelos moradores é a diferença entre as regiões do país. O Rio de Janeiro, mais que o estado de São Paulo, é o cenário comum dos filmes que tem a periferia como tema. É onde, por exemplo, os famosos Cidade de Deus e Tropa de Elite foram filmados, além da série Cidade dos Homens, da TV Globo.
Tainá Santos revela que há muitas diferenças entre o que ela vive e a realidade da periferia carioca. Ela afirma que “lá eles [os moradores] não respeitam nem a própria comunidade”. Vanessa Aparecida da Silva reforça: “Coitadas de nós se aqui fosse igual ao Rio de Janeiro”.
Imagem manipulada?
A imagem de perigo e desordem que se tem em relação ao Rio de Janeiro pode ter sido criada pelos próprios filmes, ou seja, não ser verdadeira.
A escolha de cenas de morte, caos e ilegalidade mostra um recorte superficial da realidade. É o que Alex Monteiro de Oliveira evidencia em seu comentário. Para o morador, ”no Tropa de Elite só tem tiro”.
Na opinião de Maria do Carmo Ferreira, esta generalização é precipitada. Ela declara que “eles [os produtores] tratam as pessoas como bandidos”. “Acho isso um absurdo”, enfatiza a moradora.

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