Armas trazem falsa ideia de proteção

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Segundo Coordenadora do Instituto Sou da Paz, o percurso da arma começa com o “cidadão de bem”

Fillipe Galeti Mauro e Victor Augusto de Souza

Alice Ribeiro é coordenadora da área de Controle de Armass do Instituto Sou da Paz. Militante de Direitos Humanos, Alice já trabalhou com educação e há cerca de um ano e meio voltou-se para o tema da segurança pública. Em entrevista ao NJSR, ela discute a questão do desarmamento.

NJSR: Arma é proteção?

Alice Ribeiro: Não. Arma é risco.  A arma muitas vezes pode trazer a sensação de proteção. Mas, na prática, ela significa risco. Quando alegamos possuir uma arma para proteção pessoal, há uma grande preocupação com a perda de bens materiais, mas não com a perda de vidas.

NJSR: O acesso de um cidadão comum a uma arma é fácil?

AR: Está cada vez mais difícil. Hoje há o Estatuto do Desarmamento, de 2003, que controla as armas em circulação no Brasil. Desde de então, ficou muito mais difícil conseguir armas, e, com isso, o preço aumentou muito. Está mais difícil inclusive para o mercado ilegal.

NJSR: Qual é a maior fonte de armas dos criminosos?

AR: A maior parte das armas que matam brasileiros são armas brasileiras. A maioria não é de armas clandestinas, foi adquirida legalmente. Em algum momento, elas foram vendidas para um suposto “cidadão de bem”.

NJSR: Como se interrompe o contrabando de armas?

AR: Tirando armas de circulação. Por essa razão é que o Estatuto do Desarmamento é tão importante. Ele dá instrumentos para as forças de segurança pública retirarem armas ilegais de circulação. Outra possibilidade que ele traz é a entrega voluntária de armas, que é igualmente importante.

NJSR: Como ONGs guerreiam contra um inimigo tão forte como a indústria de armas?

AR: Como Davi e Golias. A gente com estilingue e eles, literalmente, com um canhão. Eles têm interesse em manter e aumentar o comércio, e, muitas vezes, não fazem coisas que a legislação exige deles. Mais de 40 dos nossos parlamentares recebem dinheiro de fabricantes de armas para levarem seus interesses adiante.

NJSR: A educação pode ser usada como uma das suas munições?

AR: Exatamente. Fazemos um aprofundado trabalho de contracorrente. Monitoramos o que acontece no congresso. É muito mais fácil comprar o discurso de que a arma é para a proteção pessoal, do que gerar uma reflexão e mostrar que, com ela, também estamos sujeitos a matar alguém.

 NJSR: Por que o jovem adulto é a maior vítima de armas de fogo?

AR: O jovem é quem mais morre e quem mais mata. Em geral, as pessoas morrem por besteiras como em brigas de bar, de trânsito, de  torcidas e até entre casais. É importante lembrar que, entre os jovens,  é uma minoria que resolve conflitos assim. Não podemos criminalizar a juventude.

 NJSR: Que mensagem você manda para os moradores da comunidade Jardim São Remo?

AR: É importante que saibam que é possível entregar armas a qualquer momento. O processo é rápido e fácil. A pessoa não precisa se identificar, nem dizer de onde a arma vem. A arma vai ser marretada, não vai mais voltar para circulação. A pessoa também tem direito a uma indenização.

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