Operação abusiva da PM na comunidade tem apoio da mídia
Policiais revistam casas em buscas de suspeitos e perturbam moradores
A São Remo foi alvo de blitz policial na última quarta-feira, 31 de outubro. Em operação da Polícia Militar, policiais tentam encontrar os envolvidos no assassinato do soldado André Peres de Carvalho, morto na Avenida Corifeu de Azevedo Marques em 27 de setembro.Os policiais chegaram à comunidade por volta das 6h armados de camburões, viaturas, motos e cães, como afirmam moradores. Helicópteros e câmeras cercaram a comunidade. Apesar de carregarem alguns mandatos de busca, não respeitaram as restrições e foram entrando nas casas que eles bem queriam sem autorização. Os moradores reclamaram dessa ousadia, afinal os mandatos estavam restringidos a um determinado número de casas. Quatro pessoas foram presas, segundo a PM duas delas teriam envolvimento com o assassinato de André Peres.
Com medo, a comunidade fechou as portas. No portão do Circo-escola foi afixado um comunicado – sem aulas essa semana. O projeto Alavanca também parou suas atividades mais cedo. As mães, amedrontadas com a possibilidade de balas “perdidas”, ordenaram que os filhos ficassem em casa. A equipe do NJSR foi apurar o caso. A tarde quente de um bom verão ignorava o incômodo quieto da comunidade. Todas as TV’s se rendiam (sem resistência) ao sensacionalista “Brasil Urgente”. Lá do estúdio da rede Bandeirantes, localizado na rua Radiantes, no Morumbi, distanciado uns 6 km da comunidade, um tal de Datena conhecia mais da Remo do que os anônimos que lá vivem, sem nunca pisar o solo são remano.
A comunidade viva esperava ávida por notícias, mas as palavras do tal apresentador icônico eram desprovidas de vivência, mergulhadas no campo midiático da exclusão. Datena não sentia o cheiro do lixo que borbulhava com o calor, e que se fazia sentir mais forte do que qualquer aquecimento global. Não sentia a gratificação de ter sua casa no Morumbi invadida e revirada, tampouco teve a chance de abraçar o medo de se sentir, e pior, estar, no olho do furacão, no meio do fogo cruzado.
A estratégia adotada pelo governo do Estado de São Paulo para conter a onda de mortes de policiais atingiu o Jardim São Remo da pior forma possível, assim como em Paraisópolis, maior favela de São Paulo. Sob o argumento de combate ao tráfico e de busca aos suspeitos, justificam-se ações truculentas por parte da polícia; não se aborda o abuso nem a perturbação que os moradores sofreram ao ter suas casas invadidas às 6h30 da manhã.
Os grandes veículos de mídia foram à São Remo pra cobrir a operação da polícia. Em vez de buscar os preceitos do jornalismo investigativo, apoiaram-se apenas no denunciativo. Seus relatos foram colhidos apenas de fontes oficiais, negligenciando os são remanos. Promoveram a cultura do espetáculo, fazendo tudo parecer um eletrizante filme de ação, com mocinhos e bandidos, como se a questão pudesse ser simplificada na luta do bem contra o mal, como se numa comunidade só houvesse violência, tráfico e pobreza.
O professor Dennis de Oliveira escreveu sobre a ausência de visibilidade de fatos que afetam de maneira positiva ou negativa o cotidiano dos moradores. Acontecimentos que parecem não ter importância são omitidos, indignos de atenção. Não se vê nos grandes noticiários os relatos dos moradores desabrigados do Riacho Doce, a trajetória de sucesso dos Cybernétikos, nem os problemas que o lixo, a falta de iluminação, a redução do Circular gratuito acarretam à comunidade. Assim como em outras favelas, fica-se no ciclo interminável de enchentes, drogas e miséria.
A edição impressa circulará no dia 10 de outubro
Por Aldrin Jonathan e Ariane Alves
Parabens pela máteria, o que houve na comunidade realmente é abusivo e tem que ser denunciado
[…] (Notícias do Jardim São Remo – 01/11) Operação abusiva da PM na comunidade tem apoio da mídia […]
Adorei a matéria !